Do Papa actor ao Papa professor
Façam o favor de ler atentamente a sua terceira encíclica e a primeira de carácter social e digam-me se valeu ou não a pena. Não esqueçam que os estilos de João Paulo II e de Bento XVI são muito diferentes, mas enriquecem-nos.
(Rui Osório, Jornalista e pároco da Foz do Douro)
Mal foi eleito sucessor de João Paulo II, logo os media o tiveram na mira para confirmar as suas suspeitas. Em 1978, quando foi eleito para suceder a João Paulo I, o Papa Wojtyla, vindo do frio, tinha apenas 58 anos e a Imprensa dizia que era uma "atleta de Deus". Em 2005, de Roma, a Imprensa mundial diria, nalguns casos com manifesto exagero e a roçar a injúria, que o cardeal alemão Joseph Ratzinger era o "rotteweiler de Deus".
Adivinhava-se que o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé não seria um "clone" de João Paulo II, apesar de ter sido o reconhecido ideólogo do Papa polaco.
Eram iguais no conteúdo, mas bem diferentes na forma. Um sabia pisar o palco e por mais que afirmasse o que viria a dizer Bento XVI, fazia-o com bons modos, agradáveis ao mediatismo da Comunicação Social. Um, Bento XVI, continuaria na missão petrina a ser o modelo do professor universitário, muito formal e doutrinador; o outro, o polaco que chegou a Papa, era um bom actor e sabia dizer com agrado o que os media esperavam que fosse dito ou parecesse que fora afirmado, a confirmar que vale mais cair em graça do que ser engraçado.
O primeiro semestre de 2009 terá sido o mais difícil dos quatro anos do pontificado de Bento XVI. Primeiro, foi a surpreendente reabilitação dos quatro bispos tradicionalistas seguidores do cismático arcebispo Marcel Lefèbvre, sem garantias algumas que aceitem o magistério do Concílio Vaticano II; depois, foi o uso do preservativo em África; e, mais tarde, os discursos na Terra Santa.
A revista espanhola "Vida Nueva" ouviu conhecidos vaticanistas. Gian Franco Svidercoschi, que fora subdirector de "L'Osservatore Romano", confirma que está a ser uma "ano difícil", para dizer que o "problema principal da Igreja, em particular da Santa Sé, é o da comunicação".
Quem diria que João Paulo II que chegou a Roma sem experiência da Cúria lhe imprimiria o seu estilo e mereceria respeito e Bento XVI, com larga experiência romana, seria vítima da desorganização curial, que lhe esconderia que um dos bispos lefebvrianos reabilitados nega o Holocausto nazi que sacrificou milhões de judeus?!
Já para Valentina Alazraki, correspondente do Vaticano da Televisa, são visíveis as "diferenças entre Bento XVI e João Paulo II, nas relações com os média". A razão é simples: João Paulo II "sabia comunicar", embora as suas "convicções morais ou doutrinais fossem as mesmas de Bento XVI". Ou seja, mesmo quando dizia "verdades incómodas ou impopulares", João Paulo II sabia como deveria fazê-las aceitar e não tinha medo da Imprensa.
Para o jornalista do diário "Il Giornale", Andrea Tornioelli, a crise de comunicação está na Cúria Romana, em particular na Secretaria de Estado, dirigida pelo cardeal Tarcisio Bertone.
Para o ex-vaticanista do "Corriere della Sera", Luigi Accattoli, Bento XVI é um "Papa solista" e a Cúria deixou de ser a corte que "ajuda a prever e a acompanhar os actos pontifícios".
Bento XVI tem sido julgado mais severamente do que o seu antecessor. Não é fácil aceitá-lo como "Papa teólogo" que pretende pôr as coisas no devido lugar. Em vez de afeito a "fait divers", é um Papa que defende e promove a "teologia pura". E nada disso é mediático. Por isso, cobram-lhe uma elevada factura e não lhe perdoam deslizes, por muito que o seu magistério, a largo prazo, venha a ser uma referência cultural.
Diante de João Paulo II, de cuja eleição fiz a cobertura jornalística em Roma, apetecia-me, desde a primeira hora, aplaudir um grande actor. Perante Bento XVI, cuja eleição acompanhei em Roma, em 2005, não me apeteceu aplaudi-lo - e teria desejado que tivesse sido escolhido outro -, mas contive-me para não o patear. Admiro-o agora na sua pedagogia teológica, que lhe valoriza o magistério, e lamento que tenha tão má Imprensa. Merece mais atenção e um aplauso discreto, mas sentido e agradecido.
Façam o favor de ler atentamente a sua terceira encíclica e a primeira de carácter social e digam-me se valeu ou não a pena. Não esqueçam que os estilos de João Paulo II e de Bento XVI são muito diferentes, mas enriquecem-nos.
Rui Osório, Jornalista e pároco da Foz do Douro
(Rui Osório, Jornalista e pároco da Foz do Douro)
Mal foi eleito sucessor de João Paulo II, logo os media o tiveram na mira para confirmar as suas suspeitas. Em 1978, quando foi eleito para suceder a João Paulo I, o Papa Wojtyla, vindo do frio, tinha apenas 58 anos e a Imprensa dizia que era uma "atleta de Deus". Em 2005, de Roma, a Imprensa mundial diria, nalguns casos com manifesto exagero e a roçar a injúria, que o cardeal alemão Joseph Ratzinger era o "rotteweiler de Deus".
Adivinhava-se que o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé não seria um "clone" de João Paulo II, apesar de ter sido o reconhecido ideólogo do Papa polaco.
Eram iguais no conteúdo, mas bem diferentes na forma. Um sabia pisar o palco e por mais que afirmasse o que viria a dizer Bento XVI, fazia-o com bons modos, agradáveis ao mediatismo da Comunicação Social. Um, Bento XVI, continuaria na missão petrina a ser o modelo do professor universitário, muito formal e doutrinador; o outro, o polaco que chegou a Papa, era um bom actor e sabia dizer com agrado o que os media esperavam que fosse dito ou parecesse que fora afirmado, a confirmar que vale mais cair em graça do que ser engraçado.
O primeiro semestre de 2009 terá sido o mais difícil dos quatro anos do pontificado de Bento XVI. Primeiro, foi a surpreendente reabilitação dos quatro bispos tradicionalistas seguidores do cismático arcebispo Marcel Lefèbvre, sem garantias algumas que aceitem o magistério do Concílio Vaticano II; depois, foi o uso do preservativo em África; e, mais tarde, os discursos na Terra Santa.
A revista espanhola "Vida Nueva" ouviu conhecidos vaticanistas. Gian Franco Svidercoschi, que fora subdirector de "L'Osservatore Romano", confirma que está a ser uma "ano difícil", para dizer que o "problema principal da Igreja, em particular da Santa Sé, é o da comunicação".
Quem diria que João Paulo II que chegou a Roma sem experiência da Cúria lhe imprimiria o seu estilo e mereceria respeito e Bento XVI, com larga experiência romana, seria vítima da desorganização curial, que lhe esconderia que um dos bispos lefebvrianos reabilitados nega o Holocausto nazi que sacrificou milhões de judeus?!
Já para Valentina Alazraki, correspondente do Vaticano da Televisa, são visíveis as "diferenças entre Bento XVI e João Paulo II, nas relações com os média". A razão é simples: João Paulo II "sabia comunicar", embora as suas "convicções morais ou doutrinais fossem as mesmas de Bento XVI". Ou seja, mesmo quando dizia "verdades incómodas ou impopulares", João Paulo II sabia como deveria fazê-las aceitar e não tinha medo da Imprensa.
Para o jornalista do diário "Il Giornale", Andrea Tornioelli, a crise de comunicação está na Cúria Romana, em particular na Secretaria de Estado, dirigida pelo cardeal Tarcisio Bertone.
Para o ex-vaticanista do "Corriere della Sera", Luigi Accattoli, Bento XVI é um "Papa solista" e a Cúria deixou de ser a corte que "ajuda a prever e a acompanhar os actos pontifícios".
Bento XVI tem sido julgado mais severamente do que o seu antecessor. Não é fácil aceitá-lo como "Papa teólogo" que pretende pôr as coisas no devido lugar. Em vez de afeito a "fait divers", é um Papa que defende e promove a "teologia pura". E nada disso é mediático. Por isso, cobram-lhe uma elevada factura e não lhe perdoam deslizes, por muito que o seu magistério, a largo prazo, venha a ser uma referência cultural.
Diante de João Paulo II, de cuja eleição fiz a cobertura jornalística em Roma, apetecia-me, desde a primeira hora, aplaudir um grande actor. Perante Bento XVI, cuja eleição acompanhei em Roma, em 2005, não me apeteceu aplaudi-lo - e teria desejado que tivesse sido escolhido outro -, mas contive-me para não o patear. Admiro-o agora na sua pedagogia teológica, que lhe valoriza o magistério, e lamento que tenha tão má Imprensa. Merece mais atenção e um aplauso discreto, mas sentido e agradecido.
Façam o favor de ler atentamente a sua terceira encíclica e a primeira de carácter social e digam-me se valeu ou não a pena. Não esqueçam que os estilos de João Paulo II e de Bento XVI são muito diferentes, mas enriquecem-nos.
Rui Osório, Jornalista e pároco da Foz do Douro
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